Gabriel Sanches, o rigor que se converte em liberdade
- Carlos Mossmann
- há 7 dias
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Entre aplausos e críticas, Gabriel Sanches afia Breno com a energia do público, navegando entre o tabuleiro corporativo e tensões afetivas

Gabriel Sanches constrói uma trajetória múltipla entre teatro, televisão, cinema e música, ancorada na pesquisa de linguagem e na criação de personagens que expandem horizontes de representação. Nascido em Brasília, cresceu em ambiente de afeto e invenção. No quintal da avó, encenava peças improvisadas, vendia ingressos aos vizinhos e já se reconhecia ator. A morte do irmão mais velho, Dudu, poeta e estudante de História, marcou um antes e um depois em sua vida. Aos 17 anos, decidiu seguir o chamado artístico e partiu para o Rio de Janeiro.
Na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprofundou o estudo da atuação, da voz e do texto. Passagens por centros de pesquisa teatral na Europa e experiências com diretores diversos consolidaram o gosto pelo risco e pela experimentação. Desde cedo, transitou entre o clássico e o contemporâneo, entre o rigor e a invenção.
A televisão ampliou sua visibilidade. Após participações em novelas e séries, a virada veio em Pega Pega (2017), quando deu vida a Rúbia/Flávio, drag queen que mesclava humor e humanidade, conquistando público e crítica. Seguiram-se projetos com personagens complexos, que revelam ambiguidades e vulnerabilidades masculinas.
No cinema, destacou-se em papéis de alta carga simbólica, como em Berenice Procura e no docudrama sobre Rogéria, em que interpretou a artista na juventude. Nos palcos, cultiva uma ética do encontro: espetáculos de rua, experimentações em pequenos teatros e produções próprias marcam uma carreira em que pesquisa e popularidade caminham juntas.

A música surge como extensão natural desse percurso. Com o projeto Sara e Nina e o show Atenta, levou ao palco canções autorais e releituras que cruzam performance e manifesto. Dali nasceu o conceito do disco Céu de Framboesa, afirmação de liberdade de expressão, identidade e afeto.
“A música me ensinou a ouvir o silêncio”, diz o ator.
Em Dona de Mim, seu trabalho atual na TV, interpreta Breno, jovem profissional em ascensão que enfrenta dilemas éticos e íntimos. O público o viu crescer de coadjuvante a eixo dramático em uma trama em que o silêncio vale tanto quanto a palavra. Gabriel responde com método minucioso: leituras de mesa voltadas ao subtexto, caderno de gestos, estudo das pausas. “É nesse atrito que o personagem respira, entre desejo e culpa, entre o que mostra e o que cala.”
A recepção tem sido calorosa. O público destaca sua escuta em cena e a delicadeza com que transforma pausas em narrativa. Internamente, a direção reconhece nele um intérprete capaz de criar empatia e tensão em igual medida. “Quanto mais rigor no método, mais liberdade no set”, afirma.
