O ritual começa amanhã: Apanhador de Almas
- Carlos Mossmann
- 17 de set.
- 3 min de leitura
Prepare-se, estreia amanhã o novo filme de Fernando Alonso e Nelson Botter Jr., que mistura mito, medo e claustrofobia em uma casa que nunca dorme

Dirigido por Fernando Alonso e Nelson Botter Jr., o filme equilibra sugestão e impacto, transformando a casa, viva, pulsante, mutante, em um labirinto emocional onde cada corredor reflete um medo. A trama acompanha quatro amigas aspirantes à bruxaria: Emília (Klara Castanho), Mia (Jessica Córes), Olívia (Duda Reis) e Isabella (interpretada em dupla por Priscila Sol e Larissa Ferrara). Durante um eclipse, elas visitam a casa de Rea (Angela Dippe), bruxa envolta em lendas, em busca de um ritual. O que deveria ser descoberta vira desordem: uma criatura atravessa o véu, a realidade se dobra e o tempo despenca. A partir daí, o filme aperta o peito e não solta: apenas uma sairá viva, e nenhuma sairá igual.
Em entrevista à Yellow Mag, Klara Castanho resumiu o desafio de atuar entre o psicológico e o sobrenatural: “Foi um grande desafio. O mais difícil é manter tudo crível para que o público sinta a emoção junto.” Sobre reagir a efeitos que só aparecem na pós-produção, explicou: “Às vezes a gente reage a um ponto na parede, confiando na pós. A reação pode parecer exagerada no set, mas precisa fazer sentido quando a criatura aparece.” E sobre a verossimilhança emocional de Emília, acrescentou: “Eu quis manter a verdade da personagem, mesmo dentro do absurdo. Medo tem gatilhos diferentes para cada um.”

Com apenas 15 dias de filmagem e recursos enxutos, a direção transformou limitações em linguagem. “Foi um quebra-cabeça”, contou Fernando Alonso. “A gente se adaptou à realidade, ajustou com a equipe e usou muito a cor para contar a história. A casa é um organismo vivo, muda conforme a tensão aumenta.” Nelson Botter Jr. destacou o papel da simbologia: “A simbologia foi muito estudada para conectar realidades paralelas. Não quisemos explicar tudo. É para o público sair discutindo.” A dupla enxerga o filme como parte de um movimento maior no país. Fernando defende a consolidação do gênero: “O desafio é ajudar a transformar o terror numa indústria no Brasil. A gente tem histórias e gente talentosa; falta cultura de investimento.” Nelson complementa: “Filmes de gênero fortalecem o cinema brasileiro porque combinam identidade cultural com linguagem universal.”
Quanto às críticas, é claro que elas fazem parte do diálogo. Mas, ao conversar com elenco e direção, e ao entender o tempo recorde de filmagem e o baixo investimento, é admirável ver produções do gênero ganhando vida, potência e apresentando novas formas de fazer terror nacional com a nossa cara.
“É para o público sair discutindo.” — Nelson Botter Jr.
Visualmente, Apanhador de Almas aposta no poder do não dito. Símbolos atravessam a tela: o celular que aproxima e isola; o etarismo como assombração social, a bruxa velha como alvo fácil; a casa como entidade. Há ecos de clássicos: o corredor que parece infinito, o olhar que se prolonga um segundo além do conforto, o quarto com um berço vazio preenchido por um choro sem origem. Ainda assim, a obra é brasileira na medula: fala da curiosidade indomável, da amizade testada no limite e do preço de brincar com forças que cobram retorno. Ao flertar com realidades paralelas, propõe um dilema moral: o que você sacrificaria para voltar? E o que, exatamente, é amizade quando a porta se fecha e alguém precisa ficar?









Comentários