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“Through The Wall”: Rochelle Jordan transforma atravessamentos em linguagem sonora

Entre o R&B, a eletrônica e a memória diaspórica, a artista britânico-canadense apresenta um álbum que sintetiza maturidade, liberdade criativa e afirmação artística


Rochelle Jordan por Amanda Elise k.
Rochelle Jordan por Amanda Elise k.

Rochelle Jordan alcança em Through The Wall um dos momentos mais seguros de sua trajetória. Lançado pela EMPIRE, o álbum não se apresenta apenas como um novo capítulo de sua discografia, mas como a síntese de um percurso construído a partir de persistência, escuta atenta e reinvenção contínua. Ao longo de 17 faixas, a artista reafirma seu lugar como uma das vozes mais inventivas do R&B contemporâneo, expandindo o gênero para territórios menos previsíveis e mais autorais.


Com nota 8.3 da Pitchfork, o disco se destaca pela consistência estética e pela maneira fluida com que articula diferentes tempos e referências. O R&B emocional dos anos 1990 surge como base afetiva, enquanto influências de soul, reggae jamaicano, dancehall e da eletrônica britânica, com destaque para UK garage e drum & bass, moldam uma sonoridade híbrida e elegante. Essa fusão ultrapassa o campo musical e reflete uma vivência diaspórica, marcada pelo trânsito entre culturas, memórias e futuros possíveis.


Rochelle Jordan por Amanda Elise k.
Rochelle Jordan por Amanda Elise k.

As colaborações ampliam esse universo sem deslocar o protagonismo de Rochelle. KAYTRANADA imprime fluidez rítmica em “The Boy”, DāM-FunK resgata camadas de groove e nostalgia em “Sweet Sensation”, enquanto Terry Hunter adiciona pulsação e intensidade a “Crave”. A faixa-título, “Through The Wall”, ocupa posição central no projeto, funcionando como síntese conceitual e declaração de princípios. Nela, a ideia de ruptura se traduz em som, revelando um estado de passagem, libertação e amadurecimento criativo.


O álbum carrega ainda uma dimensão autobiográfica evidente. Para Rochelle Jordan, Through The Wall representa o atravessamento de limites que por muito tempo pareceram intransponíveis. Essa narrativa se desdobra em canções que equilibram introspecção e celebração, construindo uma experiência sensorial que convida o ouvinte a sentir, dançar, lembrar e seguir adiante. Há vulnerabilidade, mas também confiança, sustentadas por uma maturidade artística que permeia todo o trabalho.


Após o impacto de Play With the Changes e colaborações com nomes como Kelela, Snakehips e Childish Gambino, Rochelle consolida neste álbum uma fase de plena autonomia criativa. Com mais de 100 milhões de streams globais e uma base de fãs crescente no Brasil, Through The Wall se insere em um momento em que o R&B dialoga cada vez mais com o experimental e o eletrônico. Rochelle Jordan não observa esse movimento à distância. Ela o atravessa, ocupa e redefine, confirmando que algumas artistas não seguem tendências, elas constroem caminhos.

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