O espaço íntimo como cena: Fellini apresenta seu EP de estreia “Dance no meu quarto”
- Yellow Mag

- há 27 minutos
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Com influências do soul contemporâneo, do synthpop e do pop alternativo, a artista transforma o cotidiano em som e faz da criação um exercício de escuta e presença

A cantora e compositora Fellini – representada pela Bloop Cultural, de André Maia – apresenta Dance no meu quarto, seu EP de estreia, distribuído pela STRM e já disponível em todas as plataformas digitais. O lançamento reúne os singles Perco o Ar e Não Dá, que anteciparam a chegada do projeto e definem a atmosfera sonora que o percorre: uma mistura entre o pop alternativo e o pulso das batidas eletrônicas, construída a partir de um olhar que se volta para dentro. Ouça aqui.
O EP, concebido entre 2021 e 2022 e finalizado em setembro de 2025, nasceu do desejo de Fellini de compor e produzir sob sua própria lente — um movimento de deslocamento em relação às experiências anteriores em grupo, entre elas a banda Corcel. A ideia de um espaço íntimo, onde a criação se torna extensão do cotidiano, atravessa todo o projeto e define sua atmosfera sonora e afetiva.
O processo de gravação teve início no começo de 2023, após a artista desenvolver as primeiras versões das faixas em seu home studio. Esse período de experimentação foi essencial para consolidar ideias, referências e arranjos que serviram de base para o trabalho em estúdio. Em busca de um produtor que compreendesse esse percurso, Fellini chegou a Bezerra – duas vezes indicado ao Grammy Latino –, com quem estabeleceu uma parceria criativa que acompanhou todas as etapas do projeto. “A metodologia do home studio, desde as primeiras ideias até a finalização, criou as condições ideais para construir uma relação de intimidade e escuta. Foi nesse espaço que conseguimos desenhar o caminho que o EP precisava seguir”, afirma Fellini.

Na busca por traduzir visualmente o conceito de Dance no meu quarto, Fellini reuniu pessoas do seu círculo mais próximo, preservando o caráter íntimo que orienta o EP. Quem assina a direção artística é Rodrigo Evangelista, estilista emergente cujas criações já estamparam capas de revistas como Marie Claire, Glamour e Harper's Bazaar. Outro nome da moda que contribuiu para a criação do projeto é o do stylist João Victor Borges, responsável também por parte das fotos de divulgação – outra parte delas é assinada por Ian Rassari, conhecido por seu trabalho como fotógrafo da Marina Sena. Para desenvolver o projeto gráfico, a artista convidou o designer Bruno Queiroz.
As referências que orientam o som de Dance no meu quarto reúnem ecos de movimentos musicais dos anos 1980 e diálogos com nomes contemporâneos como Jungle, Tame Impala e Rhye, além dos brasileiros NoPorn e Marina Lima. Fellini atravessa essas influências com o olhar de quem encontra, na criação, um processo contínuo de maturação e escuta. O EP marca um momento de reconstrução e abertura, em que a artista transforma o cotidiano em composição e faz da própria intimidade o ponto de partida para a música.
Faixa a faixa
Perco o Ar abre os caminhos do EP com uma atmosfera flutuante e imersiva. Entre camadas densas de synths oitentistas, guitarras reverberadas e uma percussão pulsante, a faixa evoca um universo sensorial que oscila entre o sonho e o desejo. A letra caminha por entre metáforas e sutilezas, explorando a tensão dos anseios carnais com lirismo e delicadeza. É como se a respiração falhasse diante do toque invisível do desejo — um transe dançante onde o corpo e a mente se dissolvem. Um convite para perder o chão e se deixar levar.
Não Dá é o hino desesperado de Dance no meu quarto. Embalado por uma bateria tripletada, baixo hipnótico e camadas vocais que se acumulam até a explosão – a faixa mergulha no turbilhão emocional de desejar alguém que nunca está por inteiro. A sonoridade densa e psicodélica cria o pano de fundo para uma letra que expõe o cotidiano de quem ama em silêncio, imaginando encontros, criando expectativas, se desfazendo em pequenos gestos. É uma música sobre limites, sobre a entrega que insiste mesmo diante do “não dá”. Um desabafo elegante, dançante e profundo, que transforma vulnerabilidade em força sonora.
Em Baila cada batida é um convite para se render à dança. É uma celebração do corpo como instrumento de expressão e conexão. Fellini convida a estar presente, livre e sem medo, em uma vibe soul moderna, envolvente e com atmosfera íntima e elegante.
Coisas Aleatórias encerra Dance no meu quarto com uma imersão no pop dos anos 80, trazendo uma energia vibrante e envolvente. A faixa captura a intensidade do início de um relacionamento, onde cada conversa, por mais desconexa que seja, é carregada de emoção. Sintetizadores brilhantes e batidas contagiantes criam uma atmosfera de leveza, onde as palavras fluem naturalmente, revelando o entusiasmo do novo. A música reflete a beleza da conexão espontânea e a complexidade dos sentimentos que surgem quando nos entregamos ao imprevisível.









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