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Do quilombo ao terreiro: como Dih Morais reposiciona a moda brasileira a partir da ancestralidade

Estilista quilombola leva ancestralidade e espiritualidade ao centro do discurso fashion contemporâneo


Dih Morais | foto divulgação
Dih Morais | foto divulgação

A questão não é o que Dih Morais veste, mas quem a moda brasileira escolhe lembrar. Em “Do Quilombo ao Terreiro”, o designer quilombola desloca o centro do discurso fashion ao levar para a passarela ancestralidade, espiritualidade e pertencimento, tratados não como linguagem simbólica, mas como força criativa, política e estética.


Dih transforma a passarela em território vivido. Sua moda nasce da fé, da coletividade e das memórias transmitidas entre gerações. Em 2025, alcança um marco histórico ao se tornar o primeiro estilista quilombola a desfilar no Continente Africano, ampliando a expressão da moda afrodiaspórica contemporânea e tensionando os limites do que o mercado ainda insiste em tratar como nicho.


Inspirada nos territórios simbólicos do quilombo e do terreiro, a coleção parte das vivências do próprio criador. São espaços de resistência, cuidado e transmissão de saberes, traduzidos em peças que valorizam técnicas artesanais, processos manuais e a colaboração entre artistas e artesãos de diferentes regiões do país. Moda, aqui, se constrói de forma coletiva.


Dih Morais | foto divulgação
Dih Morais | foto divulgação

O desfile se abre com um gesto carregado de significado. O look inicial é dedicado a Exu, orixá dos caminhos e da comunicação. A escolha dialoga com uma memória pessoal de Dih. Aos 18 anos, foi ele quem levou energia elétrica à casa da avó, Mainha, ancestral homenageada em coleções anteriores. Exu abre o desfile e, com ele, possibilidades, afetos e futuros.


A paleta cromática aprofunda a narrativa. Tons de azul e verde dominam a coleção, resultado da observação cotidiana e da relação espiritual do estilista com os Orixás. As cores dão origem a estampas exclusivas que evocam proteção, equilíbrio e conexão com o sagrado. Cada escolha estética é também uma escolha de sentido.


Dih Morais | foto divulgação
Dih Morais | foto divulgação

O cenário amplia o discurso. No 25º andar de um prédio tombado no centro histórico de São Paulo, o desfile propõe um encontro simbólico entre arquitetura urbana e espiritualidade ancestral. O concreto dialoga com o terreiro, a cidade se abre a outras cosmologias.


Os materiais reforçam o compromisso ético da marca. Linho, palha da costa, búzios, buriti, cipó, cerâmica e algodão aparecem como herança cultural e gesto político. Sustentabilidade, ancestralidade e trabalho manual não surgem como tendência, mas como base do processo criativo.


Do Quilombo ao Terreiro” vai além de uma coleção. É afirmação e posicionamento. Na obra de Dih Morais, o futuro da moda brasileira não é abstração. Ele está ancorado na memória.

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