Do quilombo ao terreiro: como Dih Morais reposiciona a moda brasileira a partir da ancestralidade
- Carlos Mossmann
- há 3 dias
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Estilista quilombola leva ancestralidade e espiritualidade ao centro do discurso fashion contemporâneo

A questão não é o que Dih Morais veste, mas quem a moda brasileira escolhe lembrar. Em “Do Quilombo ao Terreiro”, o designer quilombola desloca o centro do discurso fashion ao levar para a passarela ancestralidade, espiritualidade e pertencimento, tratados não como linguagem simbólica, mas como força criativa, política e estética.
Dih transforma a passarela em território vivido. Sua moda nasce da fé, da coletividade e das memórias transmitidas entre gerações. Em 2025, alcança um marco histórico ao se tornar o primeiro estilista quilombola a desfilar no Continente Africano, ampliando a expressão da moda afrodiaspórica contemporânea e tensionando os limites do que o mercado ainda insiste em tratar como nicho.
Inspirada nos territórios simbólicos do quilombo e do terreiro, a coleção parte das vivências do próprio criador. São espaços de resistência, cuidado e transmissão de saberes, traduzidos em peças que valorizam técnicas artesanais, processos manuais e a colaboração entre artistas e artesãos de diferentes regiões do país. Moda, aqui, se constrói de forma coletiva.

O desfile se abre com um gesto carregado de significado. O look inicial é dedicado a Exu, orixá dos caminhos e da comunicação. A escolha dialoga com uma memória pessoal de Dih. Aos 18 anos, foi ele quem levou energia elétrica à casa da avó, Mainha, ancestral homenageada em coleções anteriores. Exu abre o desfile e, com ele, possibilidades, afetos e futuros.
A paleta cromática aprofunda a narrativa. Tons de azul e verde dominam a coleção, resultado da observação cotidiana e da relação espiritual do estilista com os Orixás. As cores dão origem a estampas exclusivas que evocam proteção, equilíbrio e conexão com o sagrado. Cada escolha estética é também uma escolha de sentido.









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