Entre fantasia, confissões e desilusão amorosa, manny moura lança o álbum de estreia “a crush is a creative act”
- Yellow Mag

- 17 de out.
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Distribuído pela GRRRL Music, o debut reúne nove faixas que atravessam folk e pop

A cantora e compositora carioca, residente em Los Angeles, manny moura lança a crush is a creative act, álbum de estreia distribuído pelo selo GRRRL Music. As nove músicas, que habitam a mistura entre folk e pop, narram a história completa de uma desilusão amorosa, tendo como faixa de trabalho I Think You Think of Me — canção mais pop do repertório, marcada por um refrão de forte apelo e por inaugurar a segunda metade da narrativa. Ouça aqui.
Imerso em conceitos e ângulos de um romance que pode ser interpretado dentro do universo feminino, a crush is a creative act tem como fio condutor a fantasia. O álbum parte da ideia de que projetar sentimentos em alguém revela mais sobre quem narra a experiência do que sobre a pessoa escolhida, fazendo da prática de imaginar e sustentar um enredo amoroso um ato criativo em si. Esse gesto resultou, por fim, em uma obra artística completa.
“A fantasia é sempre um lugar mais seguro do que a realidade, porque tenho controle dela”, comenta manny.
O repertório, composto inteiramente no violão, é resultado de um processo de três anos em que manny moura criou canções como forma de processar seus sentimentos, em um exercício autoanalítico ou simples desabafo pessoal. A prática de gestar confissões íntimas e vulneráveis, que inicialmente não tinham a finalidade de ultrapassar seu mundo interior, acabou se consolidando como a matéria-prima do álbum.

Gravado em três cidades, o álbum nasceu em Los Angeles, onde manny compôs todas as músicas. Em maio de 2024, a artista se reuniu com os produtores Nathan Dies e Fernando Tavares em um estúdio em Nova York durante dez dias. Assim as faixas foram moldadas e ganharam corpo. O processo de finalização se deu com cada um em um fuso horário diferente — manny em Los Angeles, Nathan em Nova York e Fernando em Salvador.
A sonoridade do álbum se apoia na mistura de folk e pop, território que manny domina com naturalidade. Arranjos de violão sustentam a base folk, enquanto o encontro entre synths e baterias pop expandem esse universo sonoro — “uma estética única que é a cara dela”, comenta Nathan. “Foi muito especial trabalhar com uma artista de visão tão clara como a manny. Produzir a crush is a creative act foi expandir forças já presentes nas canções e buscar criar um mundo romântico, sensível e colorido, e ao mesmo tempo autoconsciente na forma como explora sentimentos”, completa o produtor. Para Fernando Tavares, “nas músicas que Manu escreve existem todas as informações necessárias para construir um universo sonoro muito pessoal, colorido e cheio de personalidade”.
A crush is a creative act dialoga com a vulnerabilidade feminina presente em trabalhos de uma geração de artistas pela qual manny se declara obcecada. Obras como “Folklore”, de Taylor Swift; “History of a Feeling”, de Madi Diaz; “Good Riddance”, de Gracie Abrams; “Sour e Guts”, de Olivia Rodrigo; além da melancolia de Phoebe Bridgers, ressoam no mapa sonoro que orienta a estética do álbum.
“Eu quis criar um projeto onde meninas pudessem se sentir tão compreendidas quanto eu me sinto escutando essas artistas”, resume manny.
Faixa a faixa
Enough é a faixa que abre o álbum, mas começa pelo fim da história. A canção traduz a reflexão de uma desilusão amorosa em que o eu-lírico reconhece ter inventado grande parte do enredo em sua própria mente. A produção musical traz contornos pop e experimentais que estabelecem o ponto de partida da narrativa.
Synchronicity é fruto de um fluxo imediato de criação, composta em apenas vinte minutos e traduzida em estúdio de forma quase instantânea. A sonoridade se constrói sobre múltiplas vozes e camadas de guitarra, criando uma atmosfera etérea que conduz a um estado de suspensão.
Object of Desire é a faixa em que emergem inseguranças sobre autoimagem, levantando questões sobre afeto, desejo e rejeição. A letra expõe a intimidade desse conflito, aproximando identidade e aceitação.
What I Know Best apresenta a proximidade entre letra e voz como centro da canção. Para preservar essa intimidade, a produção apostou em arranjos minimalistas, deixando que cada palavra soe como confissão.
Pindrop (interlude) funciona como uma divisão narrativa. A canção incorpora versos escritos anos antes e cria o respiro necessário para separar as duas metades do álbum, atuando como uma pausa reflexiva.
I Think You Think of Me é a faixa de trabalho do disco e a mais pop do repertório. Ela marca o início da segunda metade da narrativa, quando a perspectiva se afasta da dor e se aproxima de um lugar de maior segurança emocional.
Lemons and Limerence é a canção em que o conceito do álbum se consolida. Foi a primeira música produzida ao lado de Nathan Dies e Fernando Tavares, e carrega a essência estética do projeto. Para a artista, esta é a letra que ela mais se orgulha de ter escrito.
Arriving trata da fantasia como refúgio, um espaço mais confortável para habitar diante da realidade, onde o eu-lírico encontra morada e sentido.
The Other Side encerra o álbum como passagem para um novo território. Do outro lado da fantasia, algo real se anuncia, enquanto o arranjo ganha densidade com o cello de Kely Pinheiro e a bateria de Gui Fuentes.







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