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Yellow Mag

DOS FILMES DE ÉPOCA AOS BLOCKBUSTERS:

Como os figurinos podem contribuir para as narrativas cinematográficas?

Nós somos aquilo que vestimos. Parece óbvio que as roupas dizem muito sobre nossa personalidade e sobre o nosso estilo, mas essa afirmação merece ser reforçada no cinema. Isso porque é importante entender que figurinos são muito mais do que elementos pomposos e vistosos de um filme de época ou, então, um delicioso desfile de peças que muita gente gostaria de ter em seu guarda-roupa. Antes de mais nada, o que os personagens vestem deve dizer muito sobre eles, sobre seus estados de espírito ou sobre seus universos. Aguçando o olhar para essa premissa, você encontrará belíssimas surpresas e detalhes que fazem a diferença na hora de narrar uma história.


Trago quatro exemplos para ilustrar a importância dos figurinos no cinema. Começo falando sobre os clássicos figurinos de “época”, que costumam ser a fórmula perfeita para conseguir pelo menos uma indicação ao Oscar. Vale a pena observar o guarda-roupa de A Favorita assinado pela sempre genial Sandy Powell. Neste filme que remonta ao período do século XVIII na Inglaterra, as mulheres vestem apenas peças que misturam tons pretos e brancos, uma clara metáfora a um tabuleiro de jogo de xadrez, dada a natureza altamente competitiva e destrutiva que as protagonistas alimentam na trama. Já os homens usam perucas imensas e roupas espalhafatosas, composição que revela o quanto A Favorita quer rir da imaturidade e da vaidade de homens que, neste longa-metragem do grego Yorgos Lanthimos, são imensamente inferiores às mulheres em inteligência e perspicácia.



A mesma Sandy Powell também assina os figurinos do delicado romance Carol, de Todd Haynes, dessa vez mergulhando na Nova York dos anos 1950. Impossível não se deslumbrar com os elegantes figurinos usados pelas protagonistas, mas a importância é outra: através deles, Sandy Powell ajuda o diretor a contar uma história de amor. Vista pelos olhos de uma garota muito tímida e que só veste tons esverdeados como Therese (Rooney Mara), Carol Aird (Cate Blanchett) usa peças que frequentemente trazem detalhes ou uma predominância vermelha, evocando a paixão que ela desperta na jovem que acaba de conhecer. Na medida em que ambas começam a se relacionar afetivamente, os detalhes desse vermelho surgem em Therese, enquanto as tonalidades verdes passam a fazer parte do figurino de Carol. Simbolicamente, as roupas representam a simbiose que marca tal relação. Já os homens, que repreendem o romance entre as duas, surgem sempre com roupas beges ou marrons, construindo no imaginário do espectador a ideia de que, sempre que essas cores surgem em cena, as protagonistas possivelmente serão repreendidas.


Enquanto Sandy Powell ressignifica o deslumbre dos figurinos de época ao colocar vários simbolismos neles, outras figurinistas esbanjam criatividade em diferentes gêneros cinematográficos. Novamente, trago dois exemplos. Começo com Jenny Beavan, que ganhou o Oscar em 2016 por seu trabalho em “Mad Max: Estrada da Fúria”. Trabalho dificílimo o dela: afinal, como imaginar as vestimentas de personagens que lutam do início ao fim em uma corrida deliciosamente tresloucada e em alta velocidade por quilômetros e mais quilômetros de areia? A sacada principal é certeira: Beavan foge das obviedades de filmes pós-apocalípticos e imagina peças cujas tonalidades quase camuflam os personagens em meio às dunas ou então dentro dos próprios veículos em que eles viajam. Tratando-se de um filme apoiado no sentimento de caça entre os personagens, essa é uma linguagem impecável para entender um pouco melhor a natureza de homens e mulheres que estão sempre em estado de alerta.



Por fim, outra figurinista Oscarizada por seu trabalho em um filme de natureza mais “fantasiosa” foi Ruth E. Carter, a primeira negra a se consagrar na respectiva categoria em quase um século de Oscar pelo blockbuster “Pantera Negra”. Partindo de um conceito afrofuturístico, ela imaginou um universo alternativo com inspirações em tribos africanas intocadas por colonizadores. Foram seis meses de pré-produção para fazer toda a pesquisa e a criação dos figurinos, que também não poderiam deixar de parecer críveis para o universo Marvel de super-heróis onde Pantera Negra está inserido. Foi um desafio que ela tirou de letra, criando peças para rainhas, guerreiros, espiãs, heróis e vilões que, acima de tudo, celebram a imponência e o orgulho africano.


Ou seja, somente com esse panorama rápido de quatro filmes, já é possível perceber como podemos sempre garimpar uma gama de significados em (bons) figurinos e aprender com eles. Isso faz parte do sempre prazeroso processo de navegar nas entrelinhas de tudo o que inconscientemente absorvemos em cada experiência cinematográfica. Tudo comunica no cinema. Inclusive as roupas. Afinal de contas, assim como na vida, os personagens são o que vestem.



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